quarta-feira, 24 de setembro de 2014

futuro

sonho que estou na estação errada do trem. ou no trem errado. ou no horário errado. ou com as pessoas erradas. sonho desajustes assustadores. a memória: um trem cuja passageira se atrasa ou se adianta. o tempo da memória é implacável: nunca sou simultânea a ele. para o trem-memória, o presente já é passado. para a passageira desmemoriada, o presente é quase um futuro.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

água

o poema que eu mais gostaria de ter escrito:

row row row my boat
gently down the stream
merrily, merrily, merrily, merrily,
life is but a dream


row, boat e stream são palavras marinhas, hídricas, são a própria água
gently é a melhor forma de estar na vida
merrily é mais feliz que happy, que glad, que joyful
a construção "is but a" é a que melhor designa algo incomparável para a qual, infelizmente, não há tradução no português
três vezes row dá a sensação de remar como a vida, como constância, imanência e ondulação
merrily quatro vezes é a própria felicidade

ainda há tanto a dizer e, ao mesmo tempo, nada a ser dito.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

nós

ocês falam muito, disse o homem. e vocês, não falam? não. nós prefere ficar quieto. nós não têm muito o que dizer. então como vocês fazem pra reclamar, pra exigir? nós exige assim mesmo. quieto. e vocês assim, quietos, conseguem o que vocês querem? às veiz. outras veiz não. mas não seria melhor falar? é, pode ser. mas nós prefere ficar quieto mesmo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

dedo

"fiction"vem de "finger", dedo, porque era com o dedo que se dava forma às invenções produzidas. dou um dedo, sem nem pesquisar, que é daí também que vem o nosso "fingir", tradução corrompida e criativa de "finger" e de "ficção" ao mesmo tempo. ou seja, e para todos os efeitos, ficção é fingimento. o resto é só e monotonamente a verdade.